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Enfoques

versión On-line ISSN 1669-2721

Enfoques vol.22 no.2 Libertador San Martín jul./dic. 2010

 

ARTÍCULOS ORIGINALES

O pensamento político de Éric Weil

Mauro Cardoso Simões

UNIFRA

Correspondencia:
Mauro Cardoso Simões: maursim@yahoo.com

Recibido: 20 de diciembre de 2009
Aceptado: 10 de septiembre de 2010

Resumen

Mi propósito es analizar la peculiaridad del pensamiento de Weil, según la categoría de razón, como elección para evitar la violencia. En su definición del hombre, Weil recupera la noción de realización, con lo cual el hombre se redefine por lo que debe ser y ya no por lo que meramente es. Con ello el hombre es interpretado como constituido por una dimensión política y moral. Mediante el lenguaje el hombre es capaz de proyectarse y saltar su realidad presente hacia las demás dimensiones temporales, porque solo entonces puede expresar lo que todavía no llegó a ser y lo que ya no es, su propia historia. El hombre es violento debido a que no es esencialmente razón, por ello el cometido de la reflexión filosófica es tornarlo, razonablemente, menos violento.

Palabras clave: Razón; Violencia; Eric Weil; Deber ser; Lenguaje

Summary

My puropose is to analyze the peculiar thinking of Weil, according to the categories of reasoning, as a choice to avoid violence. In his definition of man, Weil recovers the notion of realization, with which man is redefined in terms of what he must be and not merely for what he is. Thereto, man is interpreted as formed by a political and social dimension. Through language, men is capable of projecting and skipping his present reality towards the other temporal dimensions, since it is only there where he can express what he has not yet become and what he is not anymore, his own history. Man is violent because he is not essentially reason. On this basis, the aim of philosophical reflection is to turn him, reasonably, into a less violent person.

Key words: Reason; Violence; Eric Weil; Must be; Language

Para Tamyris Schneider Ribeiro

O pensamento filosófico de Éric Weil ainda carece de familiaridade entre nós. Somos, no entanto, levados a uma meditação significativa dos núcleos fundamentais de seu pensamento, pela interpretação singular, dada por Marcelo Perine em sua obra: Filosofia e Violência - Sentido e intenção da filosofia de Éric Weil,1 preenchendo inauguralmente uma lacuna deixado pela reflexão filosófica sobre Weil.

Dentre as diversas obras do filósofo encontram-se as que aqui mais nos importam, Logique de la philosophie (Paris, 1950), Philosophie politique (Paris, 1956) e Philosophie morale (1961).

Como minha intenção fundamental aqui é analisar a especificidade do modo filosófico de Weil, no que se refere à categoria da razão como escolha razoável e saída da violência, acredito que a disposição que Weil faz da Logique de la philosophie, que tem como título introdutório, Philosophie et violence, tem por meta levar ao centro do seu filosofar.2 Segundo Perine "uma leitura atenta da introdução revela que ali está contido todo o pensamento de Weil".3

Partindo da definição filosófica tradicional de que o homem é um animal dotado de razão e de linguagem, Weil medita sobre a Filosofia e a violência, que se configura como uma das três partes componentes da Introdução à Logique de la philosophie. As outras duas são, Reflexão sobre a filosofia e Reflexão da filosofia.

Weil reformula, no entanto, este conceito, afirmando que tal definição deve ser ampliada, de tal modo que se apresente como significando o ponto de vista da realização, e não da mera descrição de um fato para sempre dado.

Ele define o homem, então, não por aquilo que ele é, mas pelo que deve ser, ou seja, por aquilo que ele ainda não é. Neste sentido, a definição de homem aponta para a dimensão moral e política de sua constituição, mostrando que os homens não dispõem de razão e de linguagem razoável, mas devem dispor delas para serem plenamente homens.4

O homem é, assim, um animal como os outros, diferenciando-se pelo fato de que, além de necessidades ele tem desejos, os quais não são naturais, sendo necessidades que ele mesmo forma.

A insatisfação destes desejos faz com que o homem muitas vezes não saiba nem ao menos o que quer, o que deseja, sabendo, no entanto, o que não quer. E quando clareia esta realidade indesejada, é o único animal capaz de usar a linguagem para expressar a sua insatisfação e dizer não. Neste sentido sua linguagem não é apenas descritiva de uma realidade presente, mas o homem a utiliza para expressar o que ainda não é e o que já não é mais.

O homem se distingue, então, dos outros animais, porque procede à transformação por meio da palavra. O homem não só procura transformar a natureza por meio da palavra, como busca também transformar a maneira de transformá-la.5

Neste ponto chegamos à ampliação do conceito de razão, sendo esta entendida como razoabilidade, ou seja, como discurso coerente. O homem não é nunca pra razão, ele nunca será mais que razoável. Assim, a razão se encerra dentre as possibilidades para o homem, não se constituindo um, para sempre, mas surgindo como uma das saídas da violência. Neste sentido o problema da escolha é posto como escolha razoável, pois a definição do homem por aquilo que ele deve ser, o seu desejo último, revela que o que se busca é o contentamento, ou o mesmo, o fim do descontentamento.

A origem do discurso e da filosofia está no desejo e na negatividade primitiva, e estes não se inscrevem no reino das necessidades, mas das possibilidades. A razão e a linguagem são, então, uma possibilidade para o homem e para a filosofia que busca ensinar o homem a usar razoavelmente a razão.

Para Weil a filosofia começa com uma escolha, a vontade de compreender e justificar a própria vida racionalmente. Dessa escolha se destaca uma outra possibilidade, que se ignora como possibilidade; "a existência daquele que vive e que fala sem procurar justificar para si mesmo, e para os outros, seu modo de viver".6

Para Weil, a realidade no interior da qual se desenharia a possibilidade da linguagem razoável é a violência. O questionamento acerca desta afirmação tão enfática dá a Weil a oportunidade de asseverar que somente através da linguagem a violência surge.

Segundo Weil "A linguagem não é, ela se cria; ela não é a minha ou a tua, nem mesmo a nossa; eu, tu e nós, tudo isso é posterior (logicamente) à linguagem; a linguagem não é o ‘contrapeso’ da realidade; a realidade e o discurso, que lhe corresponde, se separam somente nela".7

O homem é então, enquanto dotado de fala, o único animal capaz de revelar a violência, dado que o único a procurar sentido para sua vida.

A razão tem, então como anterior a si, a liberdade de escolha. Esta anterioridade, entretanto, só existe do ponto de vista da razão. A liberdade que escolhe entre a razão e a violência, e que se faz sem referência á razão constituída, funda a razão. Assim, o homem que escolhe a razão livremente, teria podido optar pelo oposto da razão, a violência. A violência não se mostra nos embates sangrentos, sendo sim sua forma mais espetacular. A violência está presente na não busca de justificação da vida, sob a tutela da razão. Weil define, então, a tarefa da filosofia: "empreendimento de todo homem que em seu mundo procura orientar-se, procura o sentido que se opõe à violência".8

A razão e a violência só se separam depois da opção do homem pela razão, pois só existe violência se existe razão e do ponto de vista da razão. Do mesmo modo só existe o insensato do ponto de vista do sentido.

Não sendo essencialmente razão, o homem é naturalmente violento, e o que Weil se esforça em mostrar é que o homem pode voltar à violência, da qual se desligou pela escolha livre da razão.

Analisar o homem do ponto de vista daquilo que deve ser, é analisar o percurso histórico traçado pelo homem em busca da vitória sobre o descontentamento e de sua oposição à violência.

Neste sentido a filosofia não se alimenta de si mesma, não tem matéria independente. Deve-se elevar à categoria discursiva a vida dos homens nas suas mais variadas peculiaridades. Obtém-se assim um entrelaçamento de filosofia e história. Primum vivere, deinde philosophari (primeiro viver, depois filosofar). A filosofia é o esforço do homem, num momento da história, para compreender sua vida e sua linguagem.

Partindo desta reflexão, pretendo analisar o tema do Estado Mundial, o qual ainda não foi suficientemente tratado até o presente, exceção feita à Dominique Dubarle.9

Selecionei a terceira e quarta parte da Philosophie Politique, que mais particularmente investiga a configuração do Estado Mundial, devido à sua coerência e pelo fato de que, precedido pela análise da moral e da sociedade, encontra no Estado mundial a categoria política mais concreta, a partir da qual as categorias precedentes aparecem como abstratas, necessárias sim, à reflexão, mas somente se direcionada pela articulação diferenciada, nos permite compreender a realidade complexa na qual nos inserimos.

Atual na abordagem das questões das relações internacionais, Weil nos fala de um dos mais urgentes temas de sua época, a guerra entre Estados, acontecimento que ameaçou e continua ameaçando os homens em todos os momentos da história e mais particularmente do nosso século.

WEIL E O ESTADO MUNDIAL

Pressupondo que o Estado Mundial não tem unicamente um fundamento histórico e político, o Estado Mundial em Weil, aparece no conjunto de Philosophie Politique devedora de um fundamento que se encontra no interior de seu sistema filosófico: a Logique de la Philosophie. É justamente a partir daí que Weil descreve a idéia da escolha radical da razão, e é neste caminho que descreve as figuras do sentido nos quais os homens crêem encontrar uma satisfação definitiva. A razão surge conscientemente na categoria de discussão como confrontação de interesses particulares no interior de Estados e de cidadãos civilizados, devido à exclusão da violência de suas relações.

É a categoria de sentido que funda a cidade em que a humanidade se dialoga. E o sentido é o laço tênue e totalmente formal que une os homens dessa cidade. Ele é o fundo da humanidade que permite aos homens se reconhecerem através da formidável diversidade individual e coletiva. A categoria de sentido funda a idéia filosófica, não dogmática, de uma humanidade única. Ela dá a justificação última da idéia weiliana de Estado Mundial.

Para Weil, outra categoria fundamental para se compreender o Estado Mundial, é a categoria da Ação. É pela Ação que se pode compreender a intenção última do político, Ação esta que possibilita visualizarmos o devir atual do Estado Mundial através dos atores políticos, sejam eles chefes de Estado ou funcionários internacionais.

Temos que lembrar a distinção entre o filósofo e o político, pois o filósofo só é político acidentalmente. O homem político para Weil é o homem de governo. E o governo no Estado é a esfera da ação, sendo quem decide, e sua autoridade repousa na aceitação ativa de sua política pelos cidadãos, o que equivale afirmar que governar o Estado é governar a discussão instaurada no seio da comunidade política.

A qualidade específica do homem de Estado saber discernir o essencial antes que uma crise torne difícil ou impossível a conciliação dos interesses materiais da comunidade com a preservação de seus valores fundamentais. E um de seus valores principais consiste em arrancar a comunidade do inconsciente do sentimento moral, que a constitui, e fazê-la passar à consciência da vontade política, pela qual ela age.

Já o filósofo, não sendo homem da política, age não só sobre a comunidade política, mas também sobre os atores políticos, tornando possível o quadro geral de sua ação e definindo positivamente o sentido da ação propriamente política.

Assim, o filósofo cria as condições de possibilidade de uma ação sensata e não violenta. Uma tarefa que faz a história dar à luz uma versão não-violenta da ação, ou seja, uma versão propriamente política da ação.

Eric Weil recusa, no entanto, designar um Estado particular que teria a vocação de educar a humanidade. O Estado Mundial é uma forma racional que remete as comunidades históricas aos seus sentidos particulares, sob a condição de respeitar a liberdade geral.

Longe de ser um sonho de filósofo, uma utopia, o Estado Mundial é a tarefa política de nosso tempo.

NOTAS

1 Marcelo Perine, Filosofia e Violência - Sentido e intenção da filosofia de Éric Weil (São Paulo: Loyola, 1987).         [ Links ]

2 Para uma apreciação pormenorizada desta interpretação, ver: Filosofia e Violenza - Introduzione a Éric Weil (Galatina: Congedo, 1978), de L. Sichirollo.         [ Links ]

3 Perine, Filosofia e Violência - Sentido e intenção da filosofia de Éric Weil.

4 Éric Weil, Logique de la Philosophie (Paris: Vrin, 1967),         [ Links ] Introduction, passim.

5 Éric Weil. Philosophie Politique (Paris: Vrin, 1984), 78.         [ Links ]

6 Jean-François Robinet, Le Temps de la Pensé (Paris: P.U.F., 1998), 278.         [ Links ]

7 Weil, Logique de la philosophie, 420.

8 Robinet, Le Temps de la Pensé, 279.

9 Dominique Dubarle, "Totalization terrestre et devenir humain". In: Archives de Philosophie 33 (1970): 527-545.         [ Links ]

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